segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Olhar ou fazer? Olhar e fazer.

Uma das questões que mais me intriga particularmente no jornalismo (e que mais me questiono se serei capaz) é o fato de sermos observadores e não participantes.

Como não agir em certas ocasiões? Como frear meu instinto de correr para ajudar em uma situação como uma tragédia ou uma guerra? Como não me envolver com as pessoas, os personagens?

Ou... será mesmo que eu preciso manter essa distância? Meter a mão na massa não seria também um modo de contribuir depois para o relato da situação? Não posso fazer os dois? Não posso olhar E fazer?

Penso muito nisso desde que comecei meu contato de verdade com o jornalismo. Essa questão me vem à tona toda vez que escuto alguém contar sobre suas experiências pessoais no campo (seja de batalha ou não).

O pior, penso eu, não é nem para o repórter em si. É para o fotógrafo. Eu, como vivo muitas vezes esses dois lados ao mesmo tempo, me vejo mais nessa emboscada quando estou na pele do fotógrafo.

Vejo o caso do Kevin Carter. Fiz um trabalho recentemente sobre ele. Ele foi o autor dessa foto. Essa questão do observador x participante o pegou de jeito. Ele ficou tão deprimido por conta disso que se matou no final. Sua melhor foto foi sua sentença.

Quando comecei a escrever o projeto do Haiti, me questionei ainda mais sobre isso. Eu vou como pessoa? A experiência é pessoal? Ou eu vou como (projeto de) jornalista? É profissional, então? É realmente possível separar o eu-pessoa do eu-jornalista? É realmente necessário?

Tivemos uma discussão parecida hoje na aula de Ética. Diante da leitura de um texto do Cláudio Abramo, discutimos se a ética do jornalista é a mesma da ética do cidadão. O autor afirma que sim. E nesse ponto (praticamente apenas nesse ponto), eu concordo com ele.

Não tenho um botão ON/OFF que simplesmente mude PESSOA/JORNALISTA. Não quero ser um robozinho. Nem se eu quisesse conseguiria. Mas quero, se esse for meu verdadeiro objetivo, escrever um texto que possa, ao mesmo tempo, tocar e informar bem o meu leitor.

Como proceder?

Como bem colocado pela professora hoje, o jornalismo é uma profissão que já nasceu imerso em contradições.

Meu Deus, eu não poderia ter escolhido um ofício mais simples não?

Um comentário:

  1. Muito bem expressa sua opinião Bárbara.
    Sou jornalista e bacharel em Turismo aqui em Vitória/ES. Já andei por 11 países e sei o tamanho do prazer da descoberta. Parabéns pela espontaneidade de seu texto. Está no caminho certo. Jornalismo é aprendizagem e isso só depende de cada um de nós.
    Faça um belo trabalho num país tão peculiar.
    Fabrício Faustini
    fabriciofaustini@gmail.com

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